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"Retratos Íntimos"



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Lembro-me bem daquele primeiro dia da jornada, a primeira jornada da EBP-RIO que fui, logo aquela cujo o tema central pautava-se no corpo, aquela, cujo eu fiz antecipadamente minha inscrição e aguardei ansiosamente pelos dias de evento!

Sim, o tema corpo é algo que me chama a atenção, mas ainda não consegui dar um norte preciso para isso, mas pretendo...como? Não sei! Vou elaborando no meu tempo, mas já tô trabalhando neste sentido ! Vamos ver no que vai dar...

Coloco aqui a entrevista com o artista baiano Fabio Magalhães, cujo a obra da série "Retratos Íntimos" foi a arte principal da XXII Jornadas Clínicas da EBP-RIO e do ICP-RJ.

Suas obras expõem um corpo aquém do belo, esfacelado, brincando com o extremo real da carne e o que está para além de um corpo biológico, aquilo que ele chama de Ser! Durante seus processos criativos, Fábio mostra-se entregue de alma e também de corpo; afim de captar uma visceralidade poética e questionadora para quem contempla. Bem interessante!


Por Fátima Pinheiro (Psicanalista, artista plástica, colunista do Blog da Subversos e uma das responsáveis pela Comissão de Comunicação e Divulgação da Jornada)

1- Fátima Pinheiro: Que corpo você visa com sua arte?

Fábio Magalhães: Trata-se da construção de um corpo imagético/ficcional, em que parto da minha própria estrutura física, e através de metáforas visuais, crio condições inconcebíveis de serem retratadas, senão por meio de artifícios e distorções da realidade.


O corpo não é pensando desassociado do Ser, ele torna-se seu habitat. Sou levado a refletir sobre as condições do humano e da vida pelo meu desejo de transformar a memória deste Corpo/Ser em práticas visuais das mais plurais, por meio de associações e relações temporais e espaciais com a minha própria Identidade. Acredito que isso não é determinado pelo o que é externo, e sim pelo que reside dentro do homem, daquele que se reconhece através do seu próprio corpo, do seu comportamento, dos seus sentimentos e de suas paixões, em busca de se inventar a cada momento. Isto faz com que eu arraste todas as reações deste Corpo/Ser como objeto de estudo.


2- F.P.: Como se dá o seu processo criativo?

F. M.: Trabalho em uma persistência poética da pintura autoreferencial, neste sentido, parto da imagem como índice fotográfico para desembocar numa outra realidade, a pintura. Nesta, encontro possibilidades para inserir uma carga subjetiva e simbólica, necessárias às minhas intenções como artista. Procuro criar um jogo de metáforas visuais, ao qual se configura uma atmosfera carregada de situações que, talvez, possam informar algo que escapa ao nosso entendimento. Assim, crio em pintura, um espaço para expor a coexistência de realidades referentes ao humano. Deste modo, o trabalho se aproxima de um processo de autoconhecimento, é como libertar algo do interior da alma.

3- F.P.: Você utiliza o seu próprio sangue para realizar os seus trabalhos?

F. M.: Sim, isso faz parte do meu processo de criação, como falei anteriormente. Crio um ato inicial no ateliê, que diz respeito à elaboração de uma cena para atender a um ato fotográfico que termina em pintura. A fotografia é processual, pois apenas captura a imagem, não faço uso de fotografia pré-existente em meu trabalho, e depois que os quadros estão prontos, eu as destruo. Para essa obra em questão, "Retratos Íntimos", convidei um enfermeiro que veio ao meu ateliê, onde fizemos a coleta do sangue, que posteriormente, foi utilizada na simulação do coração.

4- F. P.: A sua arte é bastante impactante e desafia/problematiza a equivalência arte=belo. O que você tem a dizer sobre isso?

F. M.: Essa relação Arte/Belo já foi banida da Arte há muito tempo atrás, e isto teve início com os Expressionistas. Segundo Artur Danto os dadaístas foram os principais responsáveis pela morte da Beleza na Arte. Penso que não seja necessário travar discussões como essa em minha obra.

5- F. P.: Em sua opinião qual é o lugar dado ao corpo na cultura contemporânea?

F. M.: Essa é uma pergunta cuja resposta pode ser bem ampla. A contemporaneidade não traz um novo corpo para ser habitado, mas um corpo que passa a ser visto, e entendido dentro de um processo histórico, e não se resume a uma simples massa, uma vez que ele é atemporal. Entretanto, este corpo tenta acompanhar às mais novas invenções tecnológicas, da era digital, em meio de uma corrida desenfreada, onde se vislumbra uma significativa mudança nas relações humanas. Entre diversos modos, comportamentos de consumo, fobias, ansiedades, stress, evidencia-se um corpo fraco, vinculado à cultura do descartável, do consumo que relaciona homem-objeto-mercadoria.

Fonte: http://blogdasubversos.wordpress.com/tag/arte/

Por: Karine Ferreira- Graduação UFRJ

HuMoR!



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Não Resisti =D
 
 
Por: Karine Ferreira- Graduação UFRJ

Entrevista com Contardo Calligaris



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Trago para este post uma parte da entrevista com Contardo Calligaris, entrevista concedida a Carlos André Moreira, para o Jornal ZERO HORA. Infelizmente, não foi possível encontrar no site a data da entrevista, mas sei que varias outras entrevistas da série "com a palavra" são publicadas aos domingos, neste jornal.
Calligaris é autor de "Cartas a um Jovem Terapeuta" pela editora Alegro, entre outras obras que abordam a teoria e a clínica psicanalítica.
Vale a pena conferir a entrevista, que aborda questões como relações afetivas na contemporaneidade, sociedade, reflexões sobre a cultura brasileira, sexualidade e adolescência.




Entrevista, por Carlos André Moreira:

Nascido em Milão, radicado no Brasil, Contardo Calligaris, 65 anos, passa parte de seu tempo em Paris e Nova York e viveu uma juventude errante, que incluiu passagens por Londres e Genebra. Formado em Paris, onde teve aulas com Michel Foucault e com Jaques Lacan, Calligaris também incluiu Porto Alegre na sua geografia sentimental - ele morou na Capital nos anos 1990, na época, estava casado com a psicanalista gaúcha Eliana dos Reis.

- O Brique da Redenção ainda existe? O pessoal ainda vai lá com garrafa térmica na mão? - pergunta, durante a entrevista.

Hoje casado com a atriz Mônica Tôrres, Calligaris reside em São Paulo e é, há 15 anos, colunista do jornal Folha de S.Paulo. Seu trabalho na imprensa gradualmente fez com que seu nome passasse de um clínico referência da psicanálise lacaniana no país a uma figura reconhecida por um público mais amplo.

Uma vez por semana, seus insights avançam sobre uma ampla gama de assuntos ? sem abrir mão de temas caros à psicanálise, abraçam referências que vão da literatura à cultura de massas, do cinema ao videogame, do black bloc à autoimagem brasileira. Parte desse material já foi reunida em livros de crônicas, como o mais recente, Todos os Reis Estão Nus. Suas incursões na ficção, O Conto do Amor e A Mulher de Vermelho e Branco, protagonizadas por um psicanalista inspirado parcialmente nele próprio, devem virar série no canal pago HBO em 2014.

Ao vivo, o pensamento afiado que tornou Calligaris um grande comentarista dos costumes contemporâneos é ainda mais rápido. Com um português irrepreensível, mas com sotaque marcado, senta-se à cadeira do quarto de hotel, pede um café ao serviço e responde com frases longas e bem articuladas nas quais vai abrindo parênteses que, contra todas as possibilidades, não esquece de encerrar.

O senhor vem escrevendo muito sobre uma certa predominância da posição narcisista nos dias de hoje. O narcisismo é a característica dominante da nossa época?
Sim, mas é necessário entender uma coisa. A nossa posição narcisista é, sem dúvida, a posição psicológica dominante do mundo contemporâneo, mas ela não consiste em a gente gostar da gente. A posição narcisista é de extrema dependência. A personalidade narcisista é a personalidade de quem precisa do reconhecimento, da aprovação, do amor dos outros, como o ar que respira. É uma posição de muita dependência afetiva. Tanto que, se você tem amigos, é óbvio que tem que curtir tudo o que eles colocam na rede social, porque essa é a verdadeira demonstração de amizade hoje em dia: curtir tudo o que seu amigo posta, mesmo que você não tenha interesse algum. Aliás, tem uma boa razão para isso, porque há geralmente uma reciprocidade: se você curte o que seu amigo coloca, ele vai acabar curtindo o que você coloca. É uma espécie de seguro mútuo sobre o fato de ser minimamente gostado. Nesse sentido, o narcisismo é, sim, dominante, mas não é um simples "gosto de mim". É um "preciso que os outros gostem de mim para poder existir".

Nesse ambiente, deve aumentar a dúvida sobre se é mesmo possível fazer os outros gostarem de você...
Claro. Você pode alcançar objetivos financeiros, por exemplo, pode decidir que aos 40 anos terá cinco milhões de dólares. Você pode conseguir ou não, mas é um objetivo claro. Já ter amor, reconhecimento e respeito não é quantificável. Logo, seja qual for o seu sucesso pessoal, você não tem nem nunca terá o suficiente, então somos sempre carentes. Ao mesmo tempo, essa dependência é um tipo de sociabilidade, uma maneira interessante de viver em sociedade. Embora eu tenha uma certa simpatia pelas pessoas que, em alguns momentos, não se preocupam tanto em serem gostadas. Eu mesmo faço exercícios para isso. Para tentar realmente não ser gostado. Acho interessante não ter essa preocupação.

Viver em uma sociedade em que se é tão dependente da aprovação alheia gera ansiedade?
Sim, o tempo inteiro, mas ao mesmo tempo isso não é uma crítica social. Eu não tenho nenhuma nostalgia de um mundo diferente, acho ótimo que o mundo seja organizado assim. Porque a alternativa a isso é um mundo organizado por posições preestabelecidas: você nasceu nobre, você nasceu plebeu e não tem nada que possa mudar esse destino a partir do que se faça socialmente. Essas relações seriam determinações verticais, mas na nossa sociedade tudo se decide horizontalmente: será que seus pares, os amigos, os outros, gostam de você ou não? Claro que isso pode ser angustiante, mas isso faz com que alguns gostem mais de você hoje, menos amanhã, e vice-versa. O contexto de mobilidade social, portanto, é muito maior.

Como o senhor avalia a ascensão recente, no Brasil, de lideranças religiosas na política? O país pode estar rumando para uma guinada em direção ao conservadorismo?
Não sei se esse é um fenômeno tipicamente brasileiro. Vejo coisas como o que aconteceu recentemente na França: centenas de milhares de pessoas nas ruas contra o casamento gay. Isso na França é um negócio bizarro. Na mesma França, há uma proposta de lei do governo socialista de Hollande de penalizar os clientes das prostitutas com multa de 3,7 mil euros e até seis meses de cadeia, achando que dessa forma vão acabar com a prostituição. Isso é curioso.

Mas e com relação ao referido crescimento do pensamento conservador no Brasil? Eu tenho sempre muito medo quando vivemos momentos de aparente liberalização. Por exemplo, a ideia do casamento está, mundo afora, recebendo, de alguma forma, muito mais simpatias do que há 20 ou 30 anos. A isonomia entre homem e mulher é uma ideia mais aceita - uma ideia, na prática ainda não. Ao mesmo tempo, em lugares que consideramos extremamente civilizados, como a Suíça, aumenta a violência contra as mulheres. Cada vez que alguma coisa nos faz pensar que nossa tolerância está melhorando, estou sempre à espera da volta do bastão. A sociedade brasileira se liberalizou muito, coisa que se constata mesmo no funcionamento dos meios de comunicação. Até a novela da Globo contribui para isso enormemente. Mas não me surpreende que você, ao mesmo tempo, tenha uma volta, às vezes brutal e violenta, em todos os sentidos, de coisas como grupos de skinheads atacando homossexuais na Praça da Sé em São Paulo ou Marco Feliciano afirmando que existe cura para a homossexualidade - cura, aliás, que ele pratica, é só passar e deixar um cheque. O Brasil é um país careta em um sentido um pouco diferente. Desse ponto de vista específico, mais ou menos se compara ao resto do mundo. O Brasil é curiosamente careta em um lugar em que ele não imagina que seja.

Qual?
Em matéria de fantasia sexual. Os brasileiros têm a impressão de que sacudir a bunda quatro dias por ano durante o Carnaval ou usar um biquíni um pouco mais arrojado na praia - e olha que estou falando aqui de biquíni, porque você não pode fazer topless na praia nem no Rio de Janeiro, porque isso é um evento - os brasileiros acham que isso é um non plus ultra de liberalismo. Quando, em termos de ousadia sexual, aquilo é quase coisa de pré-adolescente. Desse ponto de vista, o país é careta. Vamos pegar números, por exemplo. Não vamos falar nem do Acre, do Amazonas ou do Pará, mas das grandes cidades brasileiras, São Paulo e Rio, deixando Porto Alegre discretamente de lado: se você fizer uma conta do número de clubes de swing, por casal de habitantes, no Brasil é irrisório, comparado com a Itália, por exemplo. E São Paulo é uma cidade de 11 milhões de pessoas, se não de 18 milhões, até esse número se discute.

Para ver a entrevista na integra acesse: http://zerohora.clicrbs.com.br/rs/pagina/contardo-calligaris.html


Por: Karine Ferreira- Graduação UFRJ
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